Como tudo começou

28/03/08



RECORDANDO


“O SERINGA” 28/3



O indivíduo que usava esta alcunha era uma daquelas figuras típicas que quase todas as terras têm. Este, da minha terra, que eu conheci aí pela década de 40/50, é recordado pelas respostas prontas e cheias de humor. Embora a vida que tinha não lhe deixasse muitas razões para tal, o copito que bebia a mais, superava isso e despertava-lhe a inspiração.


Comia o que lhe davam, dormia onde podia e deambulava durante o dia pelos cafés, onde todos gostavam de o ouvir. A sua forma de vestir era versátil, tanto o podíamos encontrar com vestuário normal, como de calças de fantasia, fraque e chapéu de diplomata. Dependia do que recebia..

O seu verdadeiro apelido era Andrade e, à época, o presidente da Câmara tinha o mesmo nome. Ora um dia, passando o “Seringa” perto de um alfaiate, travou-se este diálogo:

_Ó Doutor Andrade, então como vão as coisas lá pela Câmara?
O nosso amigo empertigou-se e falando alto e bom som, de braço estendido ao jeito de qualquer parlamentar, respondeu:


_Ora vamos lá a ter respeitinho e mais cuidado. Nada de confusões! Aqui na terra há dois Andrades e nenhum deles é doutor ouviu? Um deles sou eu que muito me prezo de ser Andrade e o outro…bem, o outro é o senhor Andrade ali da Câmara, cabide onde penduro o meu chapéu! Percebeu?


Passando um dia perto de um ferrador que tinha à porta um macaco e, encontrando um grupo de rapazes divertidos com as cabriolas do símio, fez esta recomendação:
_É assim mesmo, rapazes! É bom que comeceis a conhecer, desde novos o vosso pai. Boa tarde!

Não tinha por hábito mendigar antes “perguntava”, com um ar muito circunspecto e na sua voz meio afalsetada:
_Por acaso, o meu amigo não terá por aí, qualquer moeda que eu possa ir pôr a juros , ali no Marcelino? O que, traduzido à letra queria dizer que desejava uns escudos para mais um copito na tasca da estreita rua do Marcelino.

E, para finalizar, esta outra, quando, ao fazer a solicitação do costume, um médico da terra, entretido como estava com o jogo do dominó, meteu a mão ao bolso e lhe entregou uma moeda de 5$00. Como alguém tivesse comentado ao “Seringa” que ele estava em dia de sorte, a resposta veio pronta:

_Olhem a avaria! O dr .F. quando vai ver um doente, não lhe faz nada e cobra logo
50$00!
Espero que se tenham divertido com estes episódios reais.

M.A.

Nota:- Foto e alguns elementos retirados do livro “Porta sem trinco” de Rafael Godinho

3 comentários:

Gi disse...

Linda, Maria Amélia :)

Anónimo disse...

Amélia estas histórias são fantásticas

Anónimo disse...

Na Cruz Quebrada também viveu e morreu uma figura típica. Tinha por alcunha "o Fernandel" tal era a semelhança com o artista francês.
De boas maneiras, andava sempre bem vestido com a roupa que lhe davam, nunca passou fome, todos tinham pena dele. Dormia debaixo da ponte, na margem do Jamor,o pior era no Inverno, o temporal invadia-lhe o apartamento improvisado.Francisca

Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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