Como tudo começou

06/04/12

REGISTOS


 Quem, de entre os meus leitores, não reparou já, em casa de algum familiar de mais idade, de algum amigo, ou mesmo na sala de um museu, numa pequena moldura que vulgarmente se designa por Registo? Penso que me responderão afirmativamente, mesmo que a esse objecto, não tenham prestado, na altura, uma importância de maior. Para quem não saiba o que é, daremos uma breve explicação:


_Os registos são determinadas composições feitas à base de flores artificiais, missangas, bordados variados, tecidos, fios dourados ou prateados, penas, rendas, galões, etc. que, consoante o maior ou menor gosto e habilidade da pessoa que o fez, enquadram uma imagem religiosa, uma fotografia de alguém querido, uma oração, uma data, enfim, algo que se desejou assinalar. O resguardo desta obra é feito numa caixa de vidro, geralmente de formato facetado.


Pensa-se terem tido origem nos conventos, em que o tempo e a paciência convidavam as freiras e frades à minúcia destes e de outros delicados trabalhos. Em Portugal a maior parte destas pequenas maravilhas datam do Sec. XVIII e da primeira metade do seguinte. A predominância é de cariz religioso; estávamos na altura das peregrinações mais frequentes e, este era também um modo de perpetuar os objectos ou relíquias que as pessoas traziam consigo. As formas adoptadas em cada Registo determinam também nomes diferentes:_ Memórias, Lâminas, Estrelas, Saudades, etc.



Seria grande pretensão da minha parte, neste pequeno apontamento, alongar-me em grandes pormenores, mas gostaria de destacar a continuidade que, nos Açores, se deu a esta arte tão bonita. Ali podemos encontrar ainda hoje quem, utilizando até a simples escama de peixe, com ela faça flores das mais variadas formas que, depois, em conjunto, embelezam os Registos do Senhor Santo Cristo, por exemplo. Da mesma forma empregam o miolo da figueira e até mesmo as cascas de cebolas e alhos, que, da humildade da sua matéria sobem à categoria de obras-primas, pelas mãos de quem as manipula.

Nas várias feiras de velharias que proliferam em quase todas as localidades podem ter a sorte de ainda deparar com algum destes Registos, talvez já meio desfeito. Então, vou revelar um segredo e, ao mesmo tempo, convidar quem me lê a reparar na face posterior do objecto, que, geralmente, é feita em cartão almofadado. Nele vai encontrar quase de certeza restos de papel de jornal colados ou não. Se a sorte continuar do seu lado pode então descobrir a “Certidão de Idade” da peça que tem nas mãos. É que, era uso, estes artistas, escolherem partes de jornal onde estivesse impressa a sua data. Terá sido esta, portanto, a testemunha mais fiel que acompanhou este Registo até às suas mãos!
Quase juro que, numa próxima oportunidade, vai pôr em prática o que lhe contei….

Nota da autora do post – As imagens apresentadas são de registos bastante antigos pertença de amigos meus
M.A.

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Sociedade de Instrução Musical e Escolar Cruz Quebradense

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